15.1.17

Journey to the centre of the earth

By horse, by rail, by land, by sea, our journey starts...
Nota: Aconselho que já ouçam o disco enquanto leem (está incorporado parágrafos abaixo), porque em algum momento desse texto conto spoilers, e gostaria que sentissem a surpresa pura que senti, como se não houvesse internet nem ninguém me indicando. Espero que sintam pelo menos um pouco do que senti, pois já será muito.

Domingo (8 do corrente) estava de bobeira vendo coisas guardadas no quartinho aqui de casa e fui mexer nos vinis, buscando encontrar algo interessante que ainda não tinha visto desde que os ganhamos. Achei uma capa amarela que indicava ser a trilha sonora de um filme e tinha alguns clássicos do rock. Abri o disco por curiosidade e percebi que o conteúdo nada tinha a ver com a capa: li Rick Wakeman - journey to the centre of the earth.

Rick Wakeman em The Battle, uma das partes favoritas

Para quem não sabe, Rick Wakeman esteve e saiu da banda de rock progressivo Yes como tecladista várias vezes, e é um músico erudito de qualidade indizível. Quando comecei a ouvir Yes, foi na época que comecei a ler George Orwell. Em 1984 fizeram um filme de Nineteen Eighty-Four com o John Hurt como Winston Smith, e eu, por ter gostado do filme, quando vi que Rick Wakeman fez sua trilha sonora, baixei. Mas ficou por aí, e esqueci da discografia dele.

Acontece que comecei 2017 decidida a ouvir mais rock progressivo, ainda mais porque vi o Lineu sentindo a pulsação do baixo de Roundabout. E ouvir Yes depois de tanto tempo me fez lembrar de que passei a ouvir a banda a partir do filme Buffalo '66, que tem uma das cenas finais com música do mesmo disco, Heart of the sunrise. Falei desse filme na última postagem. Pois bem: era um terceiro sinal de que eu estava no caminho certo.

Desci as escadas e botei o disco na vitrola, rezando para não ter arranhões, porque casa de ferreiro, espeto de pau: trabalho em museu, mas minha casa é uma bagunça, e o disco esteve por anos mal armazenado. O disco começa com aplausos. Depois uma voz suave de Gary Pickford-Hopkins, acompanhado de Ashley Holt, que acabo de descobrir ser integrante de uma banda que desconheço, Warhorse.


Vou deixar o disco aqui pra vocês, é curto demais, não dá metade do caminho para meu trabalho. Cada lado do disco são duas músicas: The Journey, Recollection, The Battle e The Forest. Journey to the centre of the earth é uma história daquele que inspirou Santos Dumont para concretizar seu sonho de voar: Jules Verne. Escrita em 1864, tem como narrador nesse fabuloso disco, ninguém menos que David Hemmings, o homem com uma voz tão deliciosa quanto a de Stephen Fry, o homem que foi papel principal no já falado Profondo Rosso, um ano depois. Aquele filme de terror favorito com trilha sonora de Goblin.

David Hemmings em Profondo Rosso (1975)

Como diria Fausto (Silva), quem sabe faz ao vivo! E foi isso mesmo que Rick e seus talentosos camaradas fizeram: com orçamento baixo, só conseguiram apoio da gravadora gravando o disco num concerto pago ao vivo com a Orquestra Sinfônica de Londres no Royal Festival Hall, em 18 de janeiro de 1974.

Descobri que a chefia lá no museu não só tem esse vinil, como contava para a filha, quando pequena, a história de Verne mostrando o encarte do CD, que o marido também tinha. Olha, vou ser sincera com vocês: já baixei esse livro em 3 idiomas diferentes (mal falo inglês, quero me meter com o francês, assim, na marra). Tenho, além do vinil, o disco no meu celular e de domingo pra cá ouvi pelo menos 2 vezes por dia. Já dancei com a minha gata, minha mãe já dançou, já recitei e cantei (nunca canto, sabe). Já dancei no ponto de ônibus. Quando vi que acabava também em aplausos, quase aplaudi e chorei junto.

Agora esse parágrafo pode conter algum spoiler, e vai em especial para a Mia, mesmo que ela não se interesse pelo disco:
  • Em The Forest há um trecho de In the Hall of the Mountain King, de Peer Gynt, do Edvard Grieg, baseada na obra de Ibsen. (Também posso ou não ter começado a ouvir as 2 suites pelo menos 2 vezes ao dia);
  • No ano seguinte, 1975, teve o filme (que ainda não vi) Lisztomania, com trilha sonora e participação dele mesmo (Rick);
  • Ele teve a magnânima ideia de fazer discos progressivos (e que discografia!) contando histórias a partir do momento em que seu pai o levou para ver Pedro e o Lobo, de Prokofiev.

Liszt. E Prokofiev. E Orwell (1984). E Grieg. E Verne.

Não sei vocês, mas entrei numa jornada que não tem volta.

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Julio Verne: Viagem ao centro da terra (português, adaptado).
Mais de Jules Verne grátis.
Rick Wakeman: Journey to de centre of the earth - live performance with the Philharmonic Orchestra in 1975.

2 comentários

  1. MELDELS MUITO OBRIGADA POR ISSO ♥ Dei play esperando por algo totalmente diferente e estou deliciada aqui, só quero ouvir esse álbum pelos próximos dias, me socorra aaaaaaaaaah Dá pra perceber claramente as inspirações eruditas do cara. Tô apaixonada.

    O livro ainda não li, mas tá na minha lista de leitura. Preciso lê-lo, eu sei, mas, por motivos que desconheço, ainda não rolou a magya.

    Novamente: AGRADECIDA AQUI ♥♥♥♥♥

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    1. li outro livro de Jules Verne que não esse, e não gostei muito. Espero que tenha sido tradução/edição.
      não acredito que quase 11 meses depois eu havia esquecido de tudo isso que postei aqui! vou retomar essa vontade de leitura para 2018, já!

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Tema base por Maira Gall, editado por Helen Araújo